Fazer de uma aldeia perdida da Beira Alta, no Portugal rural e atrasado de 1962, um microcosmo do mundo grande lá fora; sem perder de vista o que eram as mentalidades e vivências aldeãs dessa época; e sem deixar de aplicar a lupa analítica aos dramas individuais de cinco mulheres cujos quotidianos são marcados pela precariedade. Tudo isto perpassa do texto de Cucha Carvalheiro, no qual a actriz e encenadora  revisita memórias dos Verões da sua infância na aldeia do seu pai, perto de Viseu, enquadrando tudo na visão interligada e panorâmica que a idade adulta permite. Fonte da raiva adapta de perto Dancing at Lughnasa (1990), premiada peça autobiográfica do dramaturgo irlandês Brian Friel (1929-2015). Sabendo-se da predilecção de Friel por Tchecov (de quem adaptou e/ou traduziu quatro peças), não deixa de ser interessante o paralelismo que é lícito estabelecer com os ambientes de As três irmãs; mas também com as cinco irmãs de A casa de Bernarda Alba, ‘canto do cisne’ de Lorca, escrita no mesmo ano (1936) em que Friel situou a acção da sua peça.

Com uma carreira de mais de quatro décadas enquanto actriz de teatro, de cinema e de televisão, Cucha Carvalheiro (n. 1948) já dirigiu peças de Éric-Emmanuel Schmitt, Ingmar Bergman, ou Lídia Jorge. É co-fundadora do Teatro do Mundo e da Escola de Mulheres – Oficina de Teatro, e foi directora do Teatro da Trindade entre 2009 e 2013.