O espectáculo Life nasceu da admiração de longa data de Sean Gandini e Kati Ylä-Hokkala pelo icónico coreógrafo norte-americano Merce Cunningham (1919-2009). A premissa era tão simples quanto ousada: pensar o que resultaria de um hipotético encontro de Cunningham com o malabarismo. O resultado consiste numa fusão perfeita da arte e virtuosismo dos Gandini com o geometrismo e a abstração espontânea do coreógrafo. Com algo mais: a transmutação para os ‘números’ de malabarismo do princípio de ‘event’ cunninghamiano. Eis um espectáculo assente na colagem de fragmentos (pré-existentes e novos), não-narrativo, e com espaço para o acaso — para o impulso interior não mediado. Ou seja, uma verdadeira aproximação à experiência do movimento em estado puro. Life baseia-se nas coreografias CRWDSPCR (1993) e Split Sides (2003), de Merce Cunningham, ambas já da sua fase de composições geradas por computador. A peça organiza se segundo a técnica de acrescentamento (polirritmia e dissociação rítmica de complexidade crescente), convocando princípios musicais, seja de Jaques Dalcroze, seja de Carl Orff.

A Gandini Juggling foi criada em 1991 por Gandini e Hokkala. Desde então, esta dupla já estreou mais de 40 criações e realizou milhares de apresentações em todo o Mundo. O ponto forte da filosofia destes criadores assenta no cruzamento da arte do malabarismo com outras disciplinas artísticas/performativas. Em 2022 trouxeram a Almada Smashed 2 — o mesmo ano em que receberam o prémio de Melhor Espectáculo de Dança, atribuído pelo The Guardian, que destacou que nesse espectáculo “os malabaristas, tal como Cunningham, tornam o ritmo visível em puzzles abstractos, de âmago iminentemente humano”.