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Festa da Bugiada e Mouriscada

Tome nota

 

O evento “Festa da Bugiada e Mouriscada” já ocorreu.

 

Expirado

Todos os anos, a 24 de junho, Bugios e Mourisqueiros dão vida a uma curiosa e invulgar lenda que tem no seu cerne uma disputa pela posse de uma imagem de S. João. Trata-se da festa sanjoanina da Bugiada e Mouriscada, ainda com origens por esclarecer, e que ocorre na vila de Sobrado, em Valongo. Conhecem-se registos escritos associados com esta tradição com mais de século e meio.

O Largo do Passal, no centro da vila de Sobrado, é o palco principal das encenações das lutas entre Bugios (Cristãos) e Mourisqueiros (Mouros), pela posse de uma imagem milagrosa de São João Baptista. Uns são liderados pelo Velho da Bugiada, os Bugios, que “são o bizarro da festa pelas suas cores, saltos acrobáticos, pelos trajes e pelas máscaras” e cujo exército não tem limites e possa ser integrado por pessoas da freguesia “dos oito aos 80”. Já os Mourisqueiros, jovens de vestes garridas, que têm de ser solteiros por tradição, constituem um exército de (cerca de) 40 homens comandado pelo Reimoeiro.

A Bugiada e Mouriscada dura todo o dia e integra-se nas Festas de São João de Sobrado. São cerca de mil os participantes trajados com vestes de veludo colorido que dão cor e vida à tradição ancestral, que todos os anos atrai dezenas de milhares de visitantes.

No Largo do Passal é onde também decorre a Cobrança de Direitos, a Lavra da Praça e a Sapateirada. Também é aí que se realiza a missa solene, na Igreja Matriz, de onde sai e à qual regressa a procissão. De manhã e até ao jantar (que ocorre entre as 9h30 e as 11h), decorrem danças de Bugios e Mourisqueiros em casa do Velho e do Reimoeiro, cujos locais variam de ano para ano. As danças que se realizam junto à Casa do Bugio, que é também onde se faz o Jantar, têm lugar na estrada que liga Sobrado a Alfena.

Os momentos mais altos da festa são a Procissão em Honra em de São João, a Dança de Entrada e a Prisão do Velho .

07:45 Dança em Casa do Reimoeiro

07:45 Dança em Casa do Velho da Bugiada

08:40 Jantar dos Mourisqueiros

09:00 Entrada da Banda Musical S. Martinho do Campo

09:15 Jantar dos Bugios

10:00 Missa Solene em honra de São João

11:15 Procissão em honra de S. João de Sobrado

12:45 Dança de Entrada

13:45 Dança do Sobreiro

15:00 Cobrança dos Direitos

17:00 Lavra da Praça (Semear, Gradar e Lavrar)

17:15 Dança do Cego/ Sapateirada

18:30 Dança do Doce

19:00 Prisão do Velho

19:50 Largada da Serpe / Milagre de S. João de Sobrado

20:30 Dança do Santo

21:30 Entrega do Ramo à Comissão de Festas

Esta festividade única no mundo está já classificada como Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal, integrando também a Rede da Máscara Ibérica. Com o intuito de uma maior valorização e promoção, esta festividade popular encontra-se em processo de estudo científico, por uma equipa da Universidade do Minho, tendente à inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial e lista representativa do património imaterial da humanidade da Unesco.

A lenda da Bugiada e Mouriscada

Conta-se que habitavam, antigamente, na região do Rio Ferreira, dois povos: os Mouros que ocupavam a Serra de Cuca Macuca (atual Serra de Santa Justa) e os Cristãos que viviam no vale do rio.

Os Mouros ou Mourisqueiros (como são conhecidos) dedicavam-se à extração de ouro na serra e eram liderados pelo Reimoeiro. Já os Cristãos ou Bugios (como são conhecidos) dedicavam-se aos trabalhos agrícolas e eram liderados pelo Velho da Bugiada.

Em 2014 foi inaugurado o Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada, localizado no antigo Centro Cultural de Sobrado, sito na Rua de Campelo, 340, Sobrado – Valongo. Trata-se de um espaço interpretativo da festa, inserido no plano de salvaguarda desta tradição. O Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada funciona também como um polo agregador de informação temática e difusor da singular manifestação, contribuindo para que os visitantes de Sobrado compreendam a festa e sejam cativados a regressar no dia de S. João ou em qualquer outro dia do ano.

Certo dia, a filha do Reimoeiro, adoeceu gravemente e não existia nenhuma cura para a sua enfermidade. O seu pai, recorreu a todos os sábios e curandeiros em busca de uma solução, mas sem sucesso. Sentindo-se impotente por nada conseguir fazer, ficou impaciente. Então, ouviu falar que os Bugios, povo vizinho que vivia em Sobrado, venerava uma imagem de São João Batista e que esta era famosa pelos seus milagres, inclusive pela salvação de uma enfermidade que a própria filha do Velho da Bugiada havia sofrido. Em desespero de causa, pediu aos Bugios o empréstimo da imagem para interceder pela cura de sua filha. Os Bugios, solidários com o Reimoeiro, emprestaram a imagem e São João operou mais um milagre. A menina estava curada, para felicidade de seu pai.

Em gesto de agradecimento pela graça recebida, o Reimoeiro organiza um festim, mas recusa-se a devolver a imagem aos Bugios. Mas a ingratidão do Reimoeiro vai mais longe, no banquete por ele oferecido, em jeito de afronta oferece os restos do repasto aos Bugios,  estes ripostam de igual forma. O ”caldo” estava entornado.

Os Bugios reclamam a imagem como sua, os Mouros recusam-se a dá-la. Estala a guerra. São trocadas mensagens entre as duas tribos afim de se fazer a paz. Nada feito. Os senhores doutores da lei (advogados), também intervêm e debatem as leis entre eles. Não chegando a acordo, troca-se tiros entre os dois palanques (castelos) e o ambiente fervilha.

Acabando-se a pólvora aos Bugios, o Reimoeiro reúne o seu exército, marcha em direção ao palanque oposto (o dos Bugios) e toma-o de assalto, aprisionando o Velho.

Reina o desânimo e a injustiça… os Bugios, solidários, emprestaram a imagem aos Mourisqueiros e viram-se, sem justificação, envolvidos numa guerra. As consequências da derrota dos Bugios foram a perda do “Santo” e do seu líder. O Velho da Bugiada estava preso e só a intervenção divina podia salvar os Bugios e o seu chefe da ruína. É nesse momento que os Bugios imploram a ajuda de São João, o seu santo protetor, que mais uma vez não os deixa desamparados. Eis que os Bugios se recordam do medo dos Mouros por figuras monstruosas, decidindo criar uma serpe para os assustar.

Os Bugios investiram com a serpe contra os Mourisqueiros. Estes, amedrontados, fogem, largando o Velho da Bugiada. No final, restitui-se a ordem inicial.

Texto originalmente publicado em saojoaosobrado.wordpress.com.

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Festa da Bugiada e Mouriscada, próximas datas

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Festa da Bugiada e Mouriscada, localização